As questões
ambientais fizeram parte das pautas jornalísticas na revolução industrial (Séc.
XIX), quando os problemas da camada de ozônio entraram nas pesquisas cientificas
e ambientalistas. Antes esse tipo de jornalismo tinha um pequeno espaço nas
páginas de variedade em forma de notinhas, sem muita importância e com poucos
atrativos. Para chamar atenção do público sobre a matéria, sem ser censurado
pela repressão do governo, o jornalista usava breves citações de personalidades
importantes da época que tivessem ligação com o governo, dessa forma o repórter
conseguia que o seu texto passasse despercebido pela censura.
As questões
ambientais têm ganhado cada vez mais espaço na mídia. Há sempre algo
relacionado: uma lei ou projeto novo para entrar em debate nas assembleias,
construtoras que querem derrubar áreas de preservação ambiental para fazer
condomínios, transposições de rios em prol do desenvolvimento urbano, isso sem
falar nas estradas que, além de derrubar matas para dar lugar ao asfalto,
retira famílias de seu habitat natural, milhares de hectares de mata nativa que
são derrubadas para dar lugar ao pasto. Enfim, tudo é
divulgado com a desculpa de que o homem precisa evoluir. (PINHEIRO, 2003)
O problema não
é a evolução. A questão é conseguir crescer, desenvolver, evoluir sem destruir
os recursos naturais. A sociedade capitalista visa o crescimento acelerado,
lucrativo e crê que a matéria prima (natureza) é inesgotável. Do outro lado
estão os ambientalistas, que também querem o desenvolvimento, porém, sabem que
é preciso crescer respeitando os limites da natureza. Eles têm consciência de
que os recursos naturais acabam, e por isso, defendem um desenvolvimento
sustentável, tornando-se assim um parceiro do meio ambiente, sem causar grandes
prejuízos.
O assunto meio ambiente engloba lucratividade,
poder, espaço de mercado, estabelece valores e molda a sociedade. Para que o
jornalista possa reportá-lo, é necessário conhecimento na área. Ele precisa
saber com quem ou com o que está lidando. A pesquisa e a cautela são
imprescindíveis para o sucesso de suas matérias, principalmente porque mexe com interesses de pessoas poderosas: governos,
latifundiários e grandes empreiteiras.
O
jornalista é capaz de mobilizar a sociedade em prol de grandes causas, como a
questão de códigos florestais e comprimento de leis. Porém, nessa área
especificamente é necessário que haja um envolvimento maior, por exemplo,
conhecer as leis e não ter medo de encarar as questões éticas da profissão. O
código de ética do jornalista em relação à conduta profissional prevê que é
dever do jornalista combater e denunciar todas as formas de corrupção, em
especial quando exercida com o objetivo de controlar a informação (art. 9,
letra f) e que o jornalista deve evitar a divulgação de fatos com o interesse
de favorecimento pessoal ou vantagens econômicas (art.13, letra a).
Conhecer os
seus direitos e deveres, o jornalista tem a ferramenta para denunciar e tornar
público todo esse jogo de interesse por terrenos, desmatamento de áreas de
preservação, despejo ilegal de lixo tóxico em rios ou fora dos aterros
adequados, o que faz a profissão ser temida por quem age ilegalmente. Esse
trabalho social de denunciar e levar ao conhecimento do público as questões ambientais, pode, através da educação e
conscientização, mobilizar a sociedade e, muitas vezes, obriga que se cumpra a
lei sobre esses criminosos. A curiosidade do jornalismo, as câmeras, as fotos e
a força que há na formação de opinião pública faz com que os infratores ameacem
e até matem as fontes e os repórteres que ousem interferir em seus interesses.
Infelizmente,
nem todo jornalista respeita o público e acaba por aceitar presentinhos para
não publicar matérias sobre os abusos cometidos. Por interesse próprio ele faz
questão de passar por despercebido e fecha os olhos para os erros ocupando-se
com assuntos irrelevantes. Quando ainda aluno, aprende-se
que o bom jornalista deve trazer a público aquilo que é de interesse do
cidadão, aquilo que fere a essência da sociedade, dar o seu melhor para fazer
justiça e honrar o voto de confiança que os leitores, ouvintes ou
telespectadores dão ao seu trabalho.
A sociedade é
cheia de vícios que ela mesma cria e condena. Por essa razão os comunicadores
sociais, precisam ater-se as constantes mudanças de comportamento dessa
sociedade e não cair em seus vícios, exemplo: transformar a ética profissional
em produto de comercio. O jornalismo ambiental é uma área propensa as propostas
de “jabás”, oferecidos como “cala boca”. (Christofoletti, 2010)
A preservação
ambiental e o crescimento sustentável tornaram-se tema da vez, principalmente
com a Rio+20, onde serão discutidas questões sobre o aquecimento global,
Amazônia, poluição ambiental e como diminuir esses problemas. As empresas
montam seus comercias publicitários com bases no que a sociedade busca. A ideia
é levar ao público aquilo que está no auge, dessa forma há garantia de consumo.
As pessoas são orientadas a valorizar o chamado crescimento “sadio”, por isso
as grandes corporações preocupam-se em veicular sua imagem a uma ação
sustentável e de preservação ambiental. O fato é que entre os bem intencionados
estão os interesseiros, e para esses últimos a ética é posta de lado.
Os grupos
econômicos dos interesseiros são proprietários de grandes veículos de
comunicação de massa, ou tem acordo com os grandes grupos econômicos que retém
uma parcela considerável da comunicação, no mundo. Como deve se posicionar o
jornalista quando tem que denunciar abusos ambientais desses grupos econômicos?
O que infelizmente acontece, mas é visto como normal pelos próprios
profissionais do jornalismo, é o engavetamento da matéria, que não chega nem às
mãos do editor.
Ser jornalista
ambiental é ter a consciência de estar em uma sociedade exigente e ao mesmo
tempo contraditória é necessário ter cuidado com as armadilhas e os vícios
dessa sociedade. A verdade deve ser fonte inesgotável para o profissional do
jornalismo, independente de sua especialização.
Bruno Balbino e Elisângela
Campos
REFERÊNCIAS
PINHEIRO, L.V.R. Comunidades científicas e infra-estrutura
tecnológica no Brasil para uso de recursos eletrônicos de comunicação e
informação na pesquisa. Ciência da Informação, v.32, n.3, p.62-73,
2003.
VALERIO, Palmira Moriconi. Da comunicação científica à divulgação. TransInformação,
Campinas, 20(2): 159-169, maio/ago., 2008
CHRISTOFOLETTI, Rogério. Jornalismo, ética e preocupação ambiental. Disponível
em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/jornalismo_etica_e_preocupacao_ambiental>.
Acesso em: 09 de maio. 2012