quinta-feira, 14 de junho de 2012

O meio ambiente, o jornalista e a ética


As questões ambientais fizeram parte das pautas jornalísticas na revolução industrial (Séc. XIX), quando os problemas da camada de ozônio entraram nas pesquisas cientificas e ambientalistas. Antes esse tipo de jornalismo tinha um pequeno espaço nas páginas de variedade em forma de notinhas, sem muita importância e com poucos atrativos. Para chamar atenção do público sobre a matéria, sem ser censurado pela repressão do governo, o jornalista usava breves citações de personalidades importantes da época que tivessem ligação com o governo, dessa forma o repórter conseguia que o seu texto passasse despercebido pela censura.
As questões ambientais têm ganhado cada vez mais espaço na mídia. Há sempre algo relacionado: uma lei ou projeto novo para entrar em debate nas assembleias, construtoras que querem derrubar áreas de preservação ambiental para fazer condomínios, transposições de rios em prol do desenvolvimento urbano, isso sem falar nas estradas que, além de derrubar matas para dar lugar ao asfalto, retira famílias de seu habitat natural, milhares de hectares de mata nativa que são derrubadas para dar lugar ao pasto. Enfim, tudo é divulgado com a desculpa de que o homem precisa evoluir. (PINHEIRO, 2003)
O problema não é a evolução. A questão é conseguir crescer, desenvolver, evoluir sem destruir os recursos naturais. A sociedade capitalista visa o crescimento acelerado, lucrativo e crê que a matéria prima (natureza) é inesgotável. Do outro lado estão os ambientalistas, que também querem o desenvolvimento, porém, sabem que é preciso crescer respeitando os limites da natureza. Eles têm consciência de que os recursos naturais acabam, e por isso, defendem um desenvolvimento sustentável, tornando-se assim um parceiro do meio ambiente, sem causar grandes prejuízos.
 O assunto meio ambiente engloba lucratividade, poder, espaço de mercado, estabelece valores e molda a sociedade. Para que o jornalista possa reportá-lo, é necessário conhecimento na área. Ele precisa saber com quem ou com o que está lidando. A pesquisa e a cautela são imprescindíveis para o sucesso de suas matérias, principalmente porque mexe com interesses de pessoas poderosas: governos, latifundiários e grandes empreiteiras.
 O jornalista é capaz de mobilizar a sociedade em prol de grandes causas, como a questão de códigos florestais e comprimento de leis. Porém, nessa área especificamente é necessário que haja um envolvimento maior, por exemplo, conhecer as leis e não ter medo de encarar as questões éticas da profissão. O código de ética do jornalista em relação à conduta profissional prevê que é dever do jornalista combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercida com o objetivo de controlar a informação (art. 9, letra f) e que o jornalista deve evitar a divulgação de fatos com o interesse de favorecimento pessoal ou vantagens econômicas (art.13, letra a).
Conhecer os seus direitos e deveres, o jornalista tem a ferramenta para denunciar e tornar público todo esse jogo de interesse por terrenos, desmatamento de áreas de preservação, despejo ilegal de lixo tóxico em rios ou fora dos aterros adequados, o que faz a profissão ser temida por quem age ilegalmente. Esse trabalho social de denunciar e levar ao conhecimento do público as questões ambientais, pode, através da educação e conscientização, mobilizar a sociedade e, muitas vezes, obriga que se cumpra a lei sobre esses criminosos. A curiosidade do jornalismo, as câmeras, as fotos e a força que há na formação de opinião pública faz com que os infratores ameacem e até matem as fontes e os repórteres que ousem interferir em seus interesses.
Infelizmente, nem todo jornalista respeita o público e acaba por aceitar presentinhos para não publicar matérias sobre os abusos cometidos. Por interesse próprio ele faz questão de passar por despercebido e fecha os olhos para os erros ocupando-se com assuntos irrelevantes. Quando ainda aluno, aprende-se que o bom jornalista deve trazer a público aquilo que é de interesse do cidadão, aquilo que fere a essência da sociedade, dar o seu melhor para fazer justiça e honrar o voto de confiança que os leitores, ouvintes ou telespectadores dão ao seu trabalho.
A sociedade é cheia de vícios que ela mesma cria e condena. Por essa razão os comunicadores sociais, precisam ater-se as constantes mudanças de comportamento dessa sociedade e não cair em seus vícios, exemplo: transformar a ética profissional em produto de comercio. O jornalismo ambiental é uma área propensa as propostas de “jabás”, oferecidos como “cala boca”. (Christofoletti, 2010)
A preservação ambiental e o crescimento sustentável tornaram-se tema da vez, principalmente com a Rio+20, onde serão discutidas questões sobre o aquecimento global, Amazônia, poluição ambiental e como diminuir esses problemas. As empresas montam seus comercias publicitários com bases no que a sociedade busca. A ideia é levar ao público aquilo que está no auge, dessa forma há garantia de consumo. As pessoas são orientadas a valorizar o chamado crescimento “sadio”, por isso as grandes corporações preocupam-se em veicular sua imagem a uma ação sustentável e de preservação ambiental. O fato é que entre os bem intencionados estão os interesseiros, e para esses últimos a ética é posta de lado.
Os grupos econômicos dos interesseiros são proprietários de grandes veículos de comunicação de massa, ou tem acordo com os grandes grupos econômicos que retém uma parcela considerável da comunicação, no mundo. Como deve se posicionar o jornalista quando tem que denunciar abusos ambientais desses grupos econômicos? O que infelizmente acontece, mas é visto como normal pelos próprios profissionais do jornalismo, é o engavetamento da matéria, que não chega nem às mãos do editor.
Ser jornalista ambiental é ter a consciência de estar em uma sociedade exigente e ao mesmo tempo contraditória é necessário ter cuidado com as armadilhas e os vícios dessa sociedade. A verdade deve ser fonte inesgotável para o profissional do jornalismo, independente de sua especialização.

Bruno Balbino e Elisângela Campos

REFERÊNCIAS
PINHEIRO, L.V.R. Comunidades científicas e infra-estrutura tecnológica no Brasil para uso de recursos eletrônicos de comunicação e informação na pesquisa. Ciência da Informação, v.32, n.3, p.62-73, 2003.
VALERIO, Palmira Moriconi. Da comunicação científica à divulgação. TransInformação, Campinas, 20(2): 159-169, maio/ago., 2008
CHRISTOFOLETTI, Rogério. Jornalismo, ética e preocupação ambiental. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/jornalismo_etica_e_preocupacao_ambiental>. Acesso em: 09 de maio. 2012

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