quinta-feira, 14 de junho de 2012

Assessoria de Imprensa: sempre em guerra com o Código de Ética


O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros estabelece um padrão de comportamento para profissionais da área baseado na Constituição de 1988. Dentre as áreas de atuação, a assessoria de imprensa se destaca como a mais distante dos princípios éticos dispostos no código deontológico, sendo praticamente impossível, conforme suas regras, ser um “assessor ético”. Logo, o exercício do jornalista nesse campo cria uma perspectiva paralela de ética pautada no profissionalismo.
O primeiro artigo do capítulo I do Código de Ética diz que “tem como base o direito fundamental do cidadão à informação, que abrange direito de informar, de ser informado e de ter acesso à informação”. O segundo dispõe que o jornalista não deve impedir o acesso a informação de relevante interesse público para atender interesses particulares e de terceiros.  Mas não é isso que vemos nas assessorias de imprensa.  Nelas, o direito a informação é deixado de lado e dá vez ao interesse do contratante, transformando o que é fato em “notícia comprada” e manipulada, muitas vezes apelativa. Como assessor, o jornalista trabalha as informações de forma a construir boas impressões da instituição, empresa, pessoa, etc.
Enquanto os jornalistas de redação têm compromisso fundamental com a verdade no relato dos fatos (Art. 4), muitas vezes, o “dever” dos assessores é justamente o de omitir informações (se necessário) para proteger o assessorado. Para eles é impossível seguir as orientações do código de ética dos jornalistas, o que os tornaria antiéticos. Porém, as assessorias se baseiam numa ética construída pela relação profissional onde o jornalista assessor defende os interesses de quem o contrata. O assessor que exerce sua função de forma profissional está, consequentemente, sendo ético aos olhos dos seus contratantes.
Diferenciam-se também a assessoria pública da assessoria privada. No setor público existem jornalistas concursados que prestam serviço como assessor e possuem mais liberdade quanto às suas publicações. Caso este venha a publicar algo prejudicial ao órgão, as consequências do seu “erro” serão mínimas ou talvez nem existam, afinal, há a proteção da estabilidade do setor público. Já na iniciativa privada, o assessor é pressionado diariamente a acertar, pois a tolerância não existe e seu emprego está sempre à mercê da repercussão do que é publicado e da felicidade do patrão.
É importante ressaltar que Código de Ética não é seguido de forma fiel nem nas redações. A utópica imparcialidade jornalística por si só já desconstrói a ideia de jornalismo ético, pois a escolha de uma palavra em detrimento de outra pode ser considerada como manipulação. Além disso, todos os meios de comunicação estão ligados a políticos, que por sua vez, impossibilitam a livre veiculação de notícias.  Nas assessorias não poderia ser diferente. Interesses políticos, institucionais e particulares também são defendidos, por vezes, de forma escancarada.
Há quem diga que assessoria de imprensa não é jornalismo por causa das diferentes formas como lidam com a informação. Entretanto, do ponto de vista ético, ambos se aproximam e não conseguem seguir de forma fiel os princípios estabelecidos no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Se nem mesmo o jornalismo redacional consegue ser ético, o que dirá a assessoria de imprensa. Cabe a cada profissional jornalista ou assessor decidir até onde pode e quer contrariar o Código.

Leonardo

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